Wednesday, September 20, 2006

Andrew Niccol: a técnica em vez do humano



Vem este post a propósito de GATTACA (1998), exibido ontem à noite no canal Hollywood, o filme que ainda me faltava ver da curta obra de Andrew Niccol. É, a par de Peter Jackson, o cineasta neo-zelandês mais reconhecido a nível mundial, e ostenta um currículo tão impressionante quanto o seu conterrâneo, partilhando igualmente qualidades tão díspares como maturidade narrativa ou domínio da fantasia em cinema.

Mas apesar de possuir apenas três filmes enquanto cineasta — o acima referido GATTACA, S1MONE (2002) e O SENHOR DA GUERRA(2005) — é já possível definir em Niccol um esquema temático de realização, ou seja, os pontos comuns em cada uma destas películas.


Gattaca

Aspecto principal: todos os seus protagonistas encarnam uma mentira, um segredo ou uma máscara perante a sociedade em que se integram. Em GATTACA, Vincent Freeman (Ethan Hawke), indivíduo de qualidade genética inferior num futuro onde a perfeição do ADN surpassa toda e qualquer qualidade humana, vinga profissionalmente ao recriar-se como Jerome Morrow, "comprando" o código genético do real detentor dessa identidade (Jude Law); S1MONE apresenta-nos um realizador em queda, Viktor Taransky (Al Pacino), que reencontra o caminho do sucesso ao dirigir a actriz mais perfeita, talentosa e colaboradora de sempre, cujo único defeito é ser produto de um programa de computador; e, por fim, O SENHOR DA GUERRA narra-nos a existência atribulada de Yuri Orlov (Nicolas Cage), cuja intensa actividade no submundo do tráfico de armas a larga escala será a nódoa num pano, aparentemente, da melhor qualidade.


S1mone

A contribuir para estas histórias de "crimes e escapadelas", reside a definição do outro tema fundamental na filmografia de Niccol: o impacto da tecnologia na Humanidade. Invariavelmente, é ela quem permite a mentira na vida dos protagonistas, formando-se assim um arco de personagem constituído pela descoberta do caminho para a felicidade e inevitável descida ao "inferno" pessoal. Pode-se concluir, portanto, que para Andrew Niccol, quanto melhor for o progresso tecnológico (nos casos apontados, a genética, a informática e as armas automáticas), mais fácil será a perda da inocência humana.


Senhor da Guerra

Em jeito de nota final, é curioso observar o trabalho deste cineasta enquanto argumentista para filmes de outros autores. Ao invés da "máscara", títulos como THE TRUMAN SHOW - A VIDA EM DIRECTO (Peter Weir, 1998) e TERMINAL DE AEROPORTO (Steven Spielberg, 2004) são reflexões sobre a falta de liberdade do Homem no seu mais puro sentido — uma filosofia que complementa, de forma notória, o básico da filmografia de Niccol.

Monday, September 18, 2006

Citação do Dia...

...ou Prémio para Pense Primeiro, Fale Depois:

"I am deeply sorry for the reactions in some countries to a few passages of my address which were considered offensive. These were in fact quotations from a medieval text, which do not in any way express my personal thought."

Papa Bento XVI.

Sunday, September 17, 2006

Eu, o David Brent e a minha circunstância

THE OFFICE,



série britânica que, pelos nossos lados, ficou traduzida por A EMPRESA, ocupa um lugar muito especial na lista dos meus produtos televisivos favoritos (com a inconfundível qualidade BBC...). Quando estreou na :2, era eu ainda estudante, divertia-me imenso com o humor que a série criava, ao espremer dolorosamente os momentos de desconcertação e embaraço do patrão mais incompetente do Mundo, de seu nome David Brent:



Presentemente, a série ainda me cativa bastante. E o principal responsável pela manutenção desse gosto reside no meu início de carreira profissional e os acontecimentos surreais que uma vida de escritório acarreta, sobretudo se estivermos integrados numa empresa de dimensão considerável. Tornou-se, portanto, inevitável a comparação entre o que era mostrado no ecrã e o que tem sido a minha realidade nos últimos meses.

Durante os longos anos da minha adolescência, os "adultos" queixavam-se, em meu redor, das dificuldades que têm em conciliar esforço profissional com relações interpessoais. Este último ponto, sempre o soube, é definitivamente a némesis de qualquer indivíduo enquanto actor social. A prová-lo está o caderno de competências que acompanhou os meus 3 anos de curso e as numerosas avaliações que constaram na folha com o título "Relações Interpessoais". Se o consultasse agora, poderia aferir, com avultado grau de segurança, qual o meu estado de espírito nas semanas que antecederam a nota relativa àquele período. E é daqui que retiro a principal (única?) conclusão acerca de relações pessoais num ambiente profissional: a nossa simpatia/antipatia face a um colega/superior hierárquico está dependente da disposição que temos para cumprir com os rituais de relacionamento interpessoal.

No meu início de carreira profissional, a circunstância que me cerca leva-me a invocar, afincadamente, as personagens e situações da série A EMPRESA. Seja pelo espírito competitivo que tenho de encarnar diariamente, pela (in)capacidade de lidar com as más decisões dos outros, quiçá por estarmos cada vez mais desumanizados pelas vicissitudes do frenesim da globalização e infinita busca pelo domínio comercial, o que é certo é que já me senti menos demente!

Não tarda nada, e começo a fazer este tipo de figuras sobre o contraplacado do meu escritório:

Bons Filmes a Não Perder Até ao Fim do Ano

Apocalypto, de Mel Gibson


Trailer

Word of Mouth: um projecto ambicioso, bem ao jeito da (cada vez mais) personalidade larger than life de Mel Gibson. Cedo despertou a atenção de toda a gente o facto de as personagens falarem no dialecto dos índios sul-americanos, insistindo-se no formato invulgar, mas aceitável, utilizado em A PAIXÃO DE CRISTO (2004).
Motivos de interesse: pelo que já é possível observar no trailer, uma excelente reconstrução de época e magnífico trabalho de fotografia.
Handicap: a contrastar com o ponto anterior, a narrativa parece ser do mais banal que existe — e este ponto nunca foi o forte de Gibson. A fuga, por parte de um nativo de uma tribo menor da América do Sul, aos grandes sacríficios humanos do Império Maia, prediz uma história puramente construída para inúmeras sequências de acção pela floresta tropical...

Talladega Nights - The Ballad of Ricky Bobby, de Adam McKay


Trailer

Word of Mouth: a reunião dos criadores de ANCHORMAN promete mais hora e meia de comédia made in Will Ferrell, um actor cada vez mais sinónimo de (boas) receitas de bilheteira. O filme, aquando da sua apresentação aos executivos dos estúdios, foi resumido como «Quatro palavras: Will Ferrell, piloto da NASCAR».
Motivos de interesse: a presença de Will Ferrell já é um motivo para assistir ao filme. Será curioso ver Sacha Baron Cohen (ou Ali G, como preferirem) no seu primeiro papel cinematográfico afastado das personagens criadas por ele em solo britânico.
Handicap: o público português estará mesmo familiarizado com as ambiências dos campeonatos da NASCAR?

The Fountain, de Darren Aronofsky


Trailer

Word of Mouth: a sua má recepção, durante a estreia mundial, no Festival de Veneza, poderá condicionar a performance financeira e crítica do filme. Os extensos e numerosos efeitos visuais foram alcançados através da micro-fotografia de reacções químicas, de modo a, e segundo as palavras do seu realizador, não datar o filme.
Motivos de interesse: o trabalho visual da película, sem dúvida a mais interessante do ano até este momento. A capacidade de aliar ficção-científica à mais pura reflexão filosófica e existencialista, bem ao jeito de obras como 2001 - ODISSEIA NO ESPAÇO (1968) e SOLARIS (1972).
Handicap: o carácter subjectivo presente no filme. Infelizmente, esta vertente num produto cinematográfico nunca resultou numa apreciação positiva geral do mesmo.

The Departed, de Martin Scorsese


Trailer

Word of Mouth: a personagem de Jack Nicholson, já descrita como a definitiva encarnação do mal.
Motivos de interesse: o elenco é, sem sombra de dúvida, o principal argumento para se pagar cerca de 5 euros e ver o filme. A possibilidade de ver Scorsese a regressar às incursões pelo mundo da Mafia norte-americana.
Handicap: fala-se de uma obra demasiado "oscarizável", o que lhe poderá retirar algum apelo artístico, e o trailer parece evidenciar os overactings de Nicholson e Leornardo DiCaprio. Mesmo assim, é difícil não compreender que se está perante um dos filmes fundamentais de 2006.

Jukebox #7

Sexta-feira passada alguém disse-me: "Meu, Doors ouve-se bem quando temos 15 anos". Eu respondo: "Doors ouve-se ontem, hoje e sempre!"

The Doors, Riders on the Storm

Friday, September 15, 2006

Literatura



Sente-se confortável com a sua actual visão do mundo, da política, da religião, da economia e da História? Tem fé nas instituições e acredita que os meios de comunicação só dizem a verdade? Então, este livro não é para si.
«O que aconteceu realmente em Fátima?» A aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos ou a aparição de um objecto voador não identificado? O terceiro segredo revelado pela Igreja corresponde à mensagem original que Lúcia escreveu?
«Neil Armstrong pisou realmente a Lua?» Se assim é, como se explica que nas fotografias tiradas não se veja uma única estrela, quando na Lua deveriam aparecer à vista com um brilho maior do que na Terra, ou que a bandeira que colocaram se mexesse, quando não existe vento na Lua.
«Foi João Paulo I assassinado?» O seu pontificado durou apenas 33 dias e a sua morte está envolta numa campanha confusa de mentiras e meias verdades. Foi um reformador que incomodou muita gente ao investigar a fundo as finanças do Vaticano.


Acima de tudo, que não restem dúvidas de que a sinopse pode fazer o livro. E este 20 GRANDES CONSPIRAÇÕES DA HISTÓRIA merece o epíteto de possuir o resumo de contracapa mais bipolar do ano. No entanto, adquiri mesmo o livro, e deleitei-me com 376 páginas de um desbobinar de teorias de conspiração das quais Oliver Stone orgulhar-se-ia.

Aconselhado para os espíritos mais curiosos, mas não trocaria um livro do Douglas Coupland por este título.

Thursday, September 14, 2006

Jukebox #6

Nirvana, Heart-Shaped Box

Bizarria #29

DETERMINAÇÃO

Gary Weddle, professor em Washington, foi um dos milhões de indivíduos que, no mundo inteiro, se emocionaram com a tragédia do 11 de Setembro de 2001. A sua envolvência, durante uma semana, em relação aos atentados foi tal que Weddle esqueceu-se de fazer a barba. Foi nesse preciso momento que definiu a sua "missão de vida": deixar a barba crescer até que Osama Bin Laden fosse capturado.

Passados que estão 5 anos desde aquele dia fatídico, eis o resultado:



As consequências desta decidida resolução variam conforme os protagonistas: a sua esposa, Donita, afirma que detesto aquela barba, as suas três filhas não se importam, e confessam que os nossos namorados até a consideram fixe e, em cada início de ano lectivo, a primeira aula de Weddle, junto de novas turmas, é dedicada aos porquês do seu peculiar aspecto.

Apesar de ser uma vontade condicionada pela crença, na altura, de que Bin Laden seria capturado no período de um mês, Weddle não volta com a palavra atrás. Vai manter o comprimento da barba enquanto o líder da Al-Qaeda continuar a monte: Nem que tenha de ser enterrado com ela!

Fonte: CNN.com

Thursday, September 07, 2006

Jukebox #5

Blur, Music is My Radar



O videoclip mais desconhecido dos Blur, visto que nunca foi exibido comercialmente (não consta, sequer, do DVD de compilação editado pela banda).

O mais interessante neste clip é, na minha opinião, ter-se conseguido criar uma coreografia eficaz e apelativa para um tema que, à primeira audição, aparenta ser tudo menos "dançável".

Tuesday, September 05, 2006

Bizarria #28

HUMOR, POLÍCIA E JEOVÁS

Quão fácil é esquecer uma visita menos oportuna, a nossas casas, de duas Testemunhas de Jeová? E se a conversa não correr bem, até que ponto pode ir o nosso desagrado?

Aparentemente, para Gordon e Jean Grove, residentes em Bursledon, Inglaterra, a vez deles não foi nada saudável. Passados que estão 32(!) anos desde o momento em que dois representantes da Igreja acima referida interrompeu-lhes a ceia de Natal para "profetizarem", o casal tomou medidas para que tal não voltasse a acontecer, colocando um placard, bastante sugestivo, à porta de casa: "Os nossos cães são alimentados à base de Testemunhas de Jeová."

Apesar do teor extremamente directo do placard, o mais curioso é que ninguém demonstrou choque ou ofensa. Nem mesmo a própria Igreja Jeová, a qual nunca mais se deslocou à residência dos Grove. Contudo, a polícia não foi na cantiga, pois considerou a frase como "infeliz, ofensiva e inapropriada" e tem insistido, de modo veemente, para que o casal a retire da visibilidade pública.

O casal, agora septuagenário, afirma que tudo não passa de um inofensivo toque de humor, elaborado sem a mínima intenção de magoar os sentimentos dos outros... o que, realmente, nunca aconteceu. Um representante das Testemunhas de Jeová do local chega a ser peremptório: "Sempre que vemos um sinal deste tipo, apenas damos meia volta e seguimos o nosso caminho"...

Fonte: London Telegraph

Jukebox #4

Portishead, Glory Box



Permitam-me a confidência, mas eu era capaz de dedicar, todos os dias, um Jukebox aos Portishead...

Sunday, September 03, 2006

O Fim de Uma Era


AP Photo/Julie Jacobson


Hoje, após 21 anos de carreira desportiva, Andre Agassi despede-se dos courts. Apesar da prematura saída do US Open, face a um desconhecido com sobrenome de campeão, Benjamin Becker, Agassi saíu pela porta grande, acompanhado por momentos de emoção e intermináveis salvas de palmas.

Na hora da despedida, o tenista norte-americano ainda teve "forças" para demonstrar que nem todas as derrotas têm de ser amargas: «O marcador mostra que perdi hoje. Contudo, ele não revela o que sinto».

Friday, September 01, 2006

Jukebox #3

Pearl Jam, Do the Evolution