Saturday, November 25, 2006

Jukebox #10

Closer, Nine Inch Nails

Tuesday, November 21, 2006

Efeméride

ROBERT ALTMAN


1925 - 2006

"Filmmaking is a chance to live many lifetimes."

Tuesday, November 14, 2006

HARD CANDY (2006), de David Slade



Será a perversidade um elemento apenas atribuível aos adultos? Podia ser este um interessante ponto de partida para a análise de HARD CANDY, filme-sensação do circuito independente norte-americano do ano transacto (merecedor de destaque no incontornável Festival de Sundance).

Hayley Stark (uma surpreendente Ellen Page, a Kitty Pryde em X-MEN: THE LAST STAND), apesar dos seus escassos 14 anos, demonstra capacidades acima da média da sua faixa etária. Todavia, não dispensa as longas horas passadas em chat rooms. É num destes espaços de conversação virtual que Hayley conhece e enceta amizade com Jeff Kohlver (Patrick Wilson), fotógrafo de moda reconhecido no seu meio. A transição do teclado para o primeiro encontro pessoal sucede num ápice, prevendo-se um relacionamento sincero de ambas as partes, perfeitamente normal, apesar do fosso de idades dos intervenientes. Ou talvez não. Decidida em desmascarar Jeff como pedófilo e predador cibernauta de adolescentes desprevenidas, HARD CANDY torna-nos testemunhas do melhor jogo do gato e do rato cinematográfico deste início de século, totalmente acompanhado por um espelho de aparências que não tardará em estilhaçar...



A premissa é imediatamente denunciada — no mínimo, para os mais informados — pelo título. A expressão hard candy, em calão de Internet, designa "rapariga menor" (1). No básico, o conceito de "Lolita". Contudo, Hayley é tudo menos submissa. A tortura que ela aplica a Jeff, na sua busca pela verdade e justiça, faria corar os colaboradores mais aplicados de Jack Bauer. E não tenhamos dúvidas que essa dor infligida é custosa de ver por duas razões: pelo seu modus operandi e por não ser possível alhearmo-nos do facto de o "torturador" ser uma rapariga de 14 anos. Cada um aguenta até onde pode; se for até ao último frame do filme, os meus parabéns.

HARD CANDY insere-se no ramo do «filme-extremo», muito em voga nos últimos cinco anos. Títulos como IRREVERSÍVEL (2002, Gaspar Noé) ou HOSTEL (2006, Eli Roth) poderão habilitar o espectador para a visão do sofrimento humano, físico e psicológico em cinema. HARD CANDY destaca-se pela introdução de novos elementos a esta química, nomeadamente as posições sociais das personagens e inversão dos papéis malfeitor-vítima.

Estabelecido o argumento — quase capaz de se desenvolver sozinho —, dá-se lugar às preocupações estéticas do filme: trabalho de câmara irrequieto, uso alargado de jump cuts e slow motion, o espaço físico enquanto reflexo das personagens, tudo características de um realizador com larga experiência no campo dos videolips. E estas decisões criativas aplicam-se, que nem uma luva, à experiência de ver HARD CANDY.

Um filme para poucos gostos? Sim, muito provavelmente. Contudo, e quando vivemos numa época de cabotinice cinematográfica, é sempre refrescante cruzarmo-nos com uma história nova.

Jukebox #9

Muse, Supermassive Black Hole

Friday, November 10, 2006

THANK YOU FOR SMOKING (2006), de Jason Reitman



Provavelmente, o feito mais ousado desta sátira, protagonizada pelo cada vez melhor Aaron Eckhart, foi conseguir transformar o homem com o emprego mais desprezível e impopular do mundo numa das personagens mais bem construídas e, sejamos sinceros, simpáticas da presente temporada cinematográfica.



Nick Naylor (Eckhart) ganha a vida ("Faço isto para pagar a hipoteca", afirma ele a certo momento) como o principal porta-voz das grandes tabaqueiras, velando pela boa imagem das mesmas junto da opinião pública e apregoando a liberdade que os americanos têm como garantida para fazerem o que quer que seja - inclusive, o controverso acto de acender um cigarro. Desafiando as campanhas difamatórias de um incorrupto senador (William H. Macy) e procurando sempre inspirar pela positiva o seu único filho (Cameron Bright), Naylor conclui o filme sem nunca perder a sua dignidade e demonstrando o seu melhor atributo profissional: a capacidade de retórica, independentemente do assunto em debate.

Munido do imprescindível charme da criatividade visual e dinâmica narrativa, bem próprios de obras sobre temas delicados, THANK YOU FOR SMOKING olha para o mercado geral dos lobbies, e em particular o do tabaco, com a mesma abordagem que um realizador asiático filma sequências de acção. Despretensiosa e meticulosamente, pois são os pequenos pormenores que transmitem as morais do filme. Embora se refiram as palavras "cigarro" e "doenças respiratórias" de dois em dois minutos, nunca vemos uma personagem a fumar, nem surge a inevitável vítima de cancro da laringe, acamada e arrependida pela primeira vez que comprou um maço de Marlboro. Sintomático, apercebemo-nos de que as personagens mais apelativas são aquelas que defendem os interesses económicos e industriais mais controversos do mundo — o conceito da amizade entre Naylor e os seus congéneres para o álcool e as armas de fogo, auto-intitulados de Esquadrão da Morte, é um achado.



Estes e outros ingredientes são a chave do sucesso de THANK YOU FOR SMOKING, uma sátira ao conservadorismo e fanatismo americanos e, simultaneamente, uma porta aberta para a reflexão sobre o poder social das grandes multinacionais no mundo, incluindo as capazes de chegarem a fazer-nos duvidar dos malefícios do tabaco...

Mais informação no site oficial.